terça-feira, 6 de maio de 2014

Piaget e a Interação Social


Piaget, assim como Freud, é considerado um dos grandes ícones da Psicologia Moderna. Enquanto Freud é o pai da Psicanálise, Piaget é o pai da Psicogenética. Ambos iniciaram linhas de conhecimentos psicológicos diferentes. A partir daí, respectivamente, estabeleceram-se escolas de pensadores que interpretaram e ampliaram seus trabalhos. A Psicanálise, por exemplo, teve vários teóricos: M. Klein, M. 

Mahler, Kohut, Lacan, Winnicott, Bion, etc. Tendo como bases os escritos de Freud, todos produziram algum novo conhecimento psicanalítico. Como isso é possível? O pai de uma Teoria como Freud, Piaget e outros, não consegue esmiuçar a produção de conhecimento de suas Obras, haja vista a riqueza de detalhes relevantes das mesmas. Assim sendo, essa missão sempre fica para outros pensadores que aprofunda algo que foi apenas superficialmente tratado ou subentendido na gênese da Teoria. 

Piaget não foge à regra. Dentre os autores que poderia ser citados, Joaquim Ferreira Xavier Jr. expandiu a Teoria da Psicogenética. Ele inicia seu livro: "A PSICOGENÉTICA - Demarcando os Processos da vida" enfatizando sua proposta de mergulhar em um mar que Piaget apenas molhou os pés. Preconizou, portanto, tal intenção eloquentemente: "Piaget supôs, mas não mapeou nem organizou os elementos dos processos proprioceptivos";  "Os esquemas adquiridos sobre os reflexos sensoriais flagrados e descritos por Piaget têm caracteres claramente cognitivos, mas re-observados, revelam também caracteres de esquemas adquiridos sobre interação reflexa de envolvimento, desde os primeiros dias do nascimento"; "Estudando Piaget, trabalhando suas conclusões e re-observando crianças e adolescentes sob o enfoque duma 'Interacionalogia Genética', pude discriminar em grande parte dos esquemas Cognitivos o caráter de envolvimento [afetivo] para o qual Piaget apenas acenou"; "A observação Psicogenética desenvolveu seu foco Interacional instigada pelo pensamento epistemológico de Piaget, psicólogo do desenvolvimento que sinalizou e supôs, mas não mapeou nem organizou, os elementos do Envolvimento Interacional". 

Brilhantemente, Xavier Jr. discorreu, na obra supracitada, sobre duas características essenciais para o desenvolvimento humano chamando-as de "Pólos Fundantes da Pessoa". O primeiro pólo é denominado Pólo Genético. Esse pólo compreende todo sistema corporal e neuronal do bebê cujo controle está no SNC. O bebê com formação normal, nascerá dotado com todos os receptores neuronais aptos a receberem a "expressão genética" estimuladas pelo ambiente físico, isto é, frio, calor, som, cheiro, luz,etc. Essa primeira parte, da psicogenética do autor em questão, foi bem aprofundada por Paiget. Xavier Jr. pinçou e desenvolveu de Piaget a segunda parte: o "Pólo Humano". Esse pólo, ainda que seja subsequente, é tão necessário quanto o primeiro para a concretização da pessoa humana. Sua função é interagir com o pólo genético, como afirma Xavier Jr. "Como 'Pólo Humano' coloca-se o ambiente adulto ativando e recontextualizando a primeira 'expressão genética". O engendramento desses pólos fundantes da pessoa recebeu o nome de "Parceria Primal". Sobre essa parceria, o ilustre mestre diz o seguinte: "É, pois, a Parceria que contextualiza e integra o bebê em si mesmo e no tecido relacional hunamo".

Destarte, pode-se afirmar que a Obra Piagetiana contempla a interação social como imprescindível para o desenvolvimento humano. Ainda que ele mesmo não tenha aprofundado sua pá nessa direção, contudo deixou sinalizado e subentendido para que outros garimpassem neste rico solo. Considerando que dos 25 livros que compoem a bibliografia do trabalho de Xavier Jr., 23 são de Paiget e 1 é de Flavell comentando Piaget, é irrefutável que ele tenha se inspirado em Piaget. Por isso, ele se constitui no arqueólogo da psicogenética que trouxe à luz o que estava soterrado, fora do alcance dos que veem Piaget com olhos míopes. O festejado autor, dentre várias afirmações sobre o pólo humano, escreve: "A pesquisa 'genética' já comprovou que não existe a chamada 'tábula rasa', oferecendo assim mais um elemento de evidência do Pólo de 'ativação do ambiente humano' como o outro Pólo fundante da pessoa. No genoma existem os sinais interacionais da espécie humana, mas a Energia Interacional da Pessoa somente é consumada pela ativação do ambiente adulto".

sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHER DEPENDENTE QUÍMICA E AS DIFICULDADES DA RECUPERAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL: Aspectos Culturais.



Rio de Janeiro, Setembro de 2013.

Pr. Décio Antônio, ThD
Teólogo, Jurista, Psicanalista.

Introdução

            Vivemos em uma sociedade que enfrenta problemas em muitas áreas. O Rio de Janeiro (e alguns estados brasileiros) tem suas virtudes e dificuldades peculiares estampadas em sua capital, dando-lhes o status de Cidade Maravilhosa bem como de Cidade Violenta. Esta projeção mundial é caracterizada pela beleza natural de suas montanhas, florestas e praias; como também pelos altos índices de homicídios, guerra do tráfico de drogas, etc.

            Dentro desta problemática, configura-se um fenômeno social que tem atravessado as fronteiras internacionais e causado muitos transtornos: A Dependência Química (crack, cocaína, maconha, álcool, etc.). Este assunto tem sido debatido em todo mundo com o objetivo de se buscar uma possível solução para o problema da dependência química, que tem afetado pessoas de todos os níveis sociais: ricos e pobres, cultos e ignorantes, homens e mulheres, etc.

            Chamam-nos atenção os esforços empreendidos na recuperação dessas pessoas. Sobretudo, das massas desfavorecidas que dependem dos programas governamentais e da iniciativa privada (ONGs, igrejas, etc.). O sucesso, infelizmente, de tal somatório de força para recuperação dos dependentes químicos, ainda não alcançou seu objetivo desejado. Basta olharmos para algumas regiões do Rio de Janeiro e cidades vizinhas para se constatar esta triste realidade.

            Quando se trata de mulher dependente química a situação ainda é mais grave. Se os nossos programas sociais, governamental ou privado, não têm logrado êxito na recuperação dos dependentes químicos – homens, muito menos têm sido eficientes com as mulheres. Cada vez mais nos deparamos com este desafio – a recuperação e reinserção da mulher dependente química na sociedade.

            Uma vez deparado com esta realidade, nos propomos discorrer brevemente sobre as questões que envolvem as dificuldades femininas em tal reinserção, abordando mais especificamente os aspectos culturais. Evidentemente, não temos a pretensão de nos aprofundarmos no assunto, ainda que seja um tema instigante. Buscaremos apenas um discurso de reflexão sobre uma matéria que merece ser tratada mais amplamente, dada sua importância e complexidade.


Mulher: Uma Guerreira em Terra de Homens

É de conhecimento público que a mulher no decorrer dos séculos e milênios tem sofrido muitas discriminações. Praticamente, em todas as culturas e civilizações a mulher ocupou uma posição muito inferior ao homem, sendo vista tão-somente como objeto serviçal, de prazer e de procriação.

Recentemente, há poucas décadas, o movimento feminista tem se levantado para protestar contra essas discriminações e reivindicar igualdade de direitos. Esta trajetória de lutas tem sortido efeitos positivos em todo o Globo, principalmente no Mundo Ocidental. Hoje as mulheres desfrutam de muitos direitos, como nunca ocorreu na História. No entanto, cabe ressaltar que todo este progresso feminino tem lhe custado um alto preço, pois além da maternidade e dos serviços domésticos, a mulher tem incorporado a sua agenda muitas outras atividades e hábitos, que tem contribuído para a ocorrência de doenças físicas e emocionais que antes era mais comum em homens.

O fato é que mudanças culturais não se dão da noite para o dia. Leva-se muito tempo para mudar a forma das pessoas pensar e interpretar o mundo a sua volta. Mesmo a existência de leis protecionistas – como a Lei Maria da Penha – é insuficiente para mudar a cultura de muitos homens violentos com suas esposas. Até mesmo, infelizmente, muitas mulheres se conformam em serem espancadas e não recorrem a seus direitos mais básicos de integridade física. E isto ocorre não por desconhecerem que há Lei Específica e Delegacia Especializada em defendê-las. E o que dizer das cidades do interior? A situação fica ainda mais delicada... Séculos e milênios de cultura não se dissolve facilmente... Nem mesmo em quem seria mais beneficiada por tal mudança: na mulher.

Como todo progresso tem seu custo: vantagens e desvantagens, bônus e ônus, benefícios e malefícios, acertos e erros, o movimento feminista não é exceção à regra. Juntamente com inúmeros benefícios merecidos à mulher, a revolução em tela trouxe também condições favoráveis para aquisição e massificação de novos hábitos comportamentais, antes predominantes na classe masculina, culminando no tabagismo, no alcoolismo e na dependência química de outras drogas mais pesadas. Assim, a mulher do século XXI, não obstante muitas conquistas, enfrenta uma dificuldade comum pertinente a sua época: a dependência química.

Homens e mulheres, igualmente, tem sido alvo da atenção do poder público e da iniciativa privada no combate à dependência química. A camada feminina, por sua vez, se depara com problemas, de toda natureza, para se recuperar e reinserir-se na sociedade, em proporções muito maiores que a classe masculina. Uma dessas dificuldades reside no aspecto cultural. E isto, tanto na concepção masculina quanto na feminina. É algo que ainda está entranhado nas pessoas, de ambos os sexos. Por isso, a recuperação e a reinserção social tornam-se um desafio, pois não é somente os homens que estão contaminados pela discriminação – o que já seria muito negativo –, mas as próprias mulheres sofrem deste mal, principalmente nas regiões sociais menos favorecidas (alvo maior de nossa reflexão).

O dependente químico, homem ou mulher, além dos prejuízos causados a sua saúde física, emocional e espiritual, tende a uma mudança de comportamento provocado pelo consumo das drogas: álcool, maconha, cocaína, crack, etc. Via de regra, dependendo da espécie e da quantidade, a droga atua proporcionando alguma sensação de prazer: fortes emoções, desejos sexuais exacerbados, delírios, alucinações, etc., tirando o usuário da realidade e levando-o a uma dimensão satisfatoriamente ilusória. Muitos são os motivos que contribuem para desencadear o interesse pelo uso das drogas. Entretanto, uma vez iniciado, muitos não conseguem mais parar, haja vista os prazeres e fuga da realidade proporcionados pelas drogas. E neste afã, o desdobramento será sem dúvida a dependência química, uma vez que se trata de substâncias que causam dependência orgânica e psíquica.

A modificação de procedimentos, isto é, de caráter, moral, valores e princípios, é só uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, começará a se manifestar na vida do dependente químico tipos de conduta que se tornará evidente aos seus entes queridos e amigos, que se conscientizarão da necessidade urgente de um tratamento. Antes de uma intervenção (do poder publico ou da iniciativa privada) que possa reverter significantemente o quadro doentio do dependente químico (homem ou mulher), as consequências das novas posturas decorrentes das drogas poderão ensejar desde pequenos furtos a familiares até a entrega ao abandono total pelas ruas.

Na medida em que o tempo passa, sem qualquer tipo de tratamento, mais propício fica o ambiente para o (a) dependente tender a usar quantidades maiores da droga iniciada, e a experimentar outros tipos de drogas consideradas mais fortes. Deste modo, a situação da pessoa neste contexto vai ficando cada vez mais dramática, e os hábitos comportamentais, por conseguinte, vai assumindo posturas degradantes mais profundas, tais como: perda de emprego, separação conjugal, abandono dos filhos e família, furto, roubo, brigas, surras, relação sexual sem limites, infidelidades de todos os gêneros, prostituição, gravidez indesejada, etc.

É oportuno salientar que a maioria das pessoas que cometem tais atos não os faria se não estivessem dominadas pelas drogas. Além da ilusão dos efeitos prazerosos que as drogas podem proporcionar, elas também funcionam cortando a censura ou consciência crítica de suas vítimas. Portanto, as atitudes bizarras e insensatas que uma pessoa nunca cometeria em condições normais, são perfeitamente e naturalmente assumidas por um dependente químico, seja homem ou mulher, visto que o amortecimento de sua censura ou consciência crítica a deixa inoperante.

Em tal quadro de desolação humana, muitos dependentes químicos pedem ou procuram ajuda. Veem que por si só é simplesmente impossível saírem de tal escravidão. O trabalho, então, de recuperação e reinserção social é começado. Ali se encontra um ser humano com todo o peso da vergonha, culpa, arrependimento, medo, etc., que se possa imaginar. Sua autoestima é a pior possível, pelas lembranças de atitudes reprováveis, perdas ou qualquer outra sequela de seu passado trágico. Somado a tudo isso, não obstante as desventuras manifestadas, ainda há a dependência orgânica e psíquica que grita ferozmente por uma dose, deixando a pessoa em tratamento com tremores físicos, calafrios, agitação, irritabilidade, ansiedade, insônia, taquicardia, e outros sintomas, aumentando o desespero do paciente que muitas vezes chega a pensar que nunca conseguirá se libertar desta miséria humana.

Neste cenário caótico, até mesmo os homens que gozam de maior prestígio cultural, em que se apregoa ser o sexo mais forte, se veem arrasados, conscientes que a recuperação e reinserção social demandarão muita força de vontade e determinação. E isto para falar dos otimistas. Para a nossa tristeza, muitos são os homens que recaem após o tratamento e se conformam com a dependência química, pois não acreditam que poderão conseguir a superação.

Se para os homens dependentes químicos a recuperação e a reinserção social é uma tarefa muito difícil, chegando mesmo a ser considerado impossível para muitos, o que dizer então das mulheres? Inseridas em uma cultura extremamente desfavorável, como já foi visto, as mulheres vítimas das drogas precisam de um tratamento especial que as ajudem na restauração pessoal e social.

Sem entrar em outras mazelas resultantes da dependência química, o relacionamento sexual com vários parceiros é um bom exemplo analítico para se comparar o tratamento cultural deferido ao homem e à mulher envolvidos em tal questão. O homem, ainda que seja casado, que tem uma vida sexual ativa com várias mulheres é considerado, culturalmente, um “garanhão”, “pegador”, etc., ou seja, ele é visto por muitos ou pela maioria (felizmente há exceção) como uma pessoa benquista. No entanto, a mulher será grandemente depreciada por tais atitudes, sendo nomeada, entre outros nomes pejorativos, de “prostituta”. Que homem gostaria, por exemplo, de se casar com uma mulher que é conhecida na região como sendo alguém que teve relação sexual com vários homens? A desonra pública atribuída pela cultura impõe uma imagem muito negativa a mulheres com tal perfil, deixando-as estigmatizadas.

Ainda nesta linha, é imprescindível destacar que a mulher dependente química, muitas vezes, vende o seu próprio corpo exclusivamente para adquirir drogas, principalmente a viciada em crack, agravando ainda mais sua reputação social. Como se não bastasse, muitas vezes, surge a gravidez como fruto de todas essas práticas sexuais, o que não ocorre, evidentemente, em hipótese alguma, com o homem.

Somente nesta seara do relacionamento sexual, pode ser visto claramente que a mulher dependente química vai se deparar com conflitos e traumas ditados pela cultura que intensificará drasticamente as dificuldades para sua recuperação e reinserção social. O homem, por outro lado, pelo menos no aspecto cultural da sexualidade, poderá sair ileso, embora esteja na mesma conjuntura.

Penso ser desnecessário abordar outras facetas, alistadas acima, das implicações das drogas. A mulher terá as mesmas dificuldades em relação ao homem, só que muito mais agravadas. Sua restauração pessoal e social será muito mais trabalhosa que a do homem, em todas as áreas, inclusive no aspecto cultural.

Destarte, precisamos de políticas públicas e de programas sociais (governamental ou privado) mais conscientes, visando às reais necessidades da mulher dependente química. Não se pode ter um programa social uniforme para homens e mulheres. A realidade da mulher é outra. Faz-se necessário, portanto, projetos de recuperação e reinserção sociais contextualizados para as demandas singulares da mulher dependente química.


CONCLUSÃO

            Depois do breve comentário acima exposto, concluímos que seria salutar fecharmos esta reflexão sugerindo algumas mudanças no sistema de tratamento que vem sendo adotado em Casas de Recuperação para Dependentes Químicos. Entre outras posturas que poderiam ser modificadas para atender as necessidades peculiares da mulher dependente química, destacamos duas questões que julgamos ser de extrema relevância para ser apreciada, as quais são:

Ø  Casa de Recuperação mista para homens e mulheres.
Ø  Menor proporção de Casas de Recuperação só para mulheres em relação à existência de Casas de Recuperação só para homens.

Casa de Recuperação mista para homens e mulheres.

            Ainda que saibamos das boas intenções dos coordenadores e responsáveis por tais Casas, não podemos deixar sem registro o fato de haver um baixíssimo índice de recuperação; tanto para homens como para mulheres. E o motivo é simples: envolvimento sentimental ou sexual dos dependentes químicos. Sem entrar na esfera da homossexualidade, é notório a todos que os sexos opostos se atraem; faz parte da natureza biológica, psicológica, ou instintiva das espécies. Se esta atração sentimental ou sexual do homem para mulher, ou vice-versa, é algo natural ao ser humano em condições normais, o que dizer do dependente químico? Visto que estamos falando de pessoas que tiveram, em decorrência das drogas, uma vida sexual lasciva e promíscua, não é de admirar que as mesmas facilmente se vejam em tais relacionamentos repetitivos do passado, inclusive com as drogas, embora estejam em uma Casa de Recuperação.

            Faz-se necessário, portanto, Casa de Recuperação somente para homens e Casa de Recuperação somente para mulheres. É óbvio que tal medida não garante que não haverá problemas na seara da sexualidade, haja vista a crescente adesão ao homossexualismo, mas, com certeza, as probabilidades de sucesso na recuperação e reinserção social, tanto para homens como para mulheres, são indiscutíveis.
Menor proporção de Casas de Recuperação só para mulheres em relação à existência de Casas de Recuperação só para homens.
            Outro ponto que merece destaque é a pequena quantidade existente de Casas de Recuperação só para mulheres em relação aos homens. Aqui também fica patente que a cultura machista dominante tem prevalecido. Qualquer pessoa que trabalhe com dependência química sabe ser difícil encontrar tal casa feminina. Sem sombras de dúvida, é muito mais fácil encontrar casa masculina. Por que será? Alguém poderá dizer: “há mais homens na dependência química do que mulheres, por isso a desproporção”. Seria uma boa resposta para tempos remotos, onde se via claramente a predominância masculina na dependência química. Para nossa época, tal resposta é anacrônica. 

            Como já foi visto, cada vez mais nos deparamos com mulheres envolvidas na dependência química. Há várias regiões da Cidade conhecidas como “crackolândia”, dentro e fora das comunidades carentes. E para nosso espanto, muitas vezes, a quantidade de mulheres é equivalente ou superior à quantidade de homens. Não sabemos ao certo as estatísticas de outras grandes Cidades do Brasil, entretanto no Rio de Janeiro e cidades vizinhas esses dados estão explícitos nas Avenidas e nas Comunidades.

O depoimento de um paulista, dependente químico em tratamento em uma determinada Casa de Recuperação no Rio de Janeiro, pode contribuir para ampliar nossa visão. O mesmo relatou que na Cidade de São Paulo, de onde viera, não havia tantas mulheres usuárias de drogas como no Rio de Janeiro. Disse ainda que já havia passado pela Casa. Segundo ele, seu retorno se deu por não conseguir resistir o assédio das mulheres também usuárias; por isso, estava de volta. Falou ter grandes dificuldades em resistir às drogas fora Casa em decorrência da grande quantidade de mulheres também usuárias, fato que, de acordo com seu testemunho, é quase inexistente em São Paulo.

Depois das considerações feitas, chegamos ao entendimento que o número existente de Casas de Recuperação só para mulheres está muito aquém das reais necessidades das mesmas. A demanda é muito maior que o sistema impregnado pela cultura machista imagina. Precisamos, portanto, de uma quantidade, no mínimo, equivalente de Casas só para mulheres tal como há para homens. Concluímos também que Casas de Recuperação mistas para homens e mulheres é um empreendimento ineficaz.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

MÚSICA FUNK: DE DEUS OU DO DIABO?


MÚSICA FUNK: DE DEUS OU DO DIABO?

A música estilo funk, infelizmente, tem sido usada pelo diabo de uma forma assustadora. Por meio dela muitos jovens têm sido iniciado e mergulhado no mundo das drogas, da violência e da prostituição, haja vista que este estilo musical tem por base, majoritária, a apologia ao tráfico e a imoralidade sexual. Qualquer pessoa de bem (independente de sua fé religiosa) fica indignada quando é assaltada, frequentemente dentro de sua própria casa, por um som ensurdecedor que lhe furta seus direitos mais básicos de descanso em seu lar. Somado a isto, não obstante todo desconforto ocasionado pelos níveis de decibeis exorbitantes, estas mesmas famílias se veem em um constrangimento incalculável por ter que ouvir palavras das mais indecentes e imorais sem, na maioria das vezes, nada poder fazer. É muito comum, também, o funk ser tocado em carros equipados com sorberbas caixas de som. Neste caso, o problema pode ser anda pior, pois não se limita a bailes funk em clubes ou em comunidades, haja vista que o carro pode ir a qualquer lugar, em qualquer hora.
Assim sendo, não é de admirar que haja uma posição muito definida entre os grupos sociais com relação à música funk: via de regra, há os que a amam e os que a odeiam. Isto acontece por dois motivos elementares. O primeiro grupo sente-se motivado, empolgado e encorajado a se liberar a toda forma de prazeres quando é estimulado pelo som da música funk e suas respectivas letras extasiantes de libertinagem. Em contrapartida, o segundo grupo entra na contramão de tais sentimentos prazerosos, descendo a um outro extremo de revolta e repugnância por todos os danos que o tal estilo musical lhe acarreta. Cabe ressaltar, que ambos os grupos desencadeiam mecanismos psicológicos de “identificação inconsciente”, altamente positivo ou negativo, que sempre se manisfestarão quando os tais grupos forem estimulados ao som da música funk.
Por esses e outros motivos, a modalidade de música gospel funk tem sofrido muita rejeição no seio da igreja evangélica, e outras. Os mecanismos de defesa insconcientes, acima citados, manifestam-se com todas as suas forças reprimidas protestando que tal rítimo musical “profano” não pode fazer parte do repertório de outros ritmos que se usa para louvar a Deus, e nem mesmo utilizá-lo como ferramenta de evangelização. É de conhecimento público que outras modalidades, tais como: o samba, o pagode, o rock, o forró, etc., já sofreram (ou sofrem ainda) algum tipo de rejeição, mas nada pode ser comparado ao que o gospel funk sofre de desprezo, repulsa e repugnância. Alguns chegam a declarar abertamente que “a música funk é do diabo”. Um dos motivos de tal postura assumida já foi comentado acima; e tem cunho psicológico. Outro motivo, que merece também ser abordado, é a ignorância; ou seja, a falta de um pouco de conhecimento histórico e teológico sobre modalidades musicais.
O estilo funk tem sua origem na música dos negros norte-americanos. Estes criaram o gospel, o blues, o soul e o jazz. O funk nasce justamente da fusão destes estilos musicais, isto é, ele também foi criado pelos negros norte-americanos. Para espanto de muitos, a música funk veio do mesmo berço que a música gospel. Ambas têm uma história comum. Fica difícil, portanto, defender que o funk é coisa do diabo, e que não se pode adotar tal modalidade nas igrejas, quando se conhece um pouco de sua biografia. Deste modo, é perfeitamente legítimo o uso do termo “gospel funk” para se adorar a Deus ou trabalhar no seu Reino. Há uma fundamentação histórica inequívoca de sua procedência salutar para ser constituído em um estilo musical, tal como outros, de uso corrente no culto devocional e na evangelização dos não convertidos a Cristo.
No que tange a perspectiva teológica sobre o assunto em pauta, é por demais rudimentar para se recorrer a argumentações profundas nesta seara. Qualquer leitor da Bíblia, com o mínimo de bom senso, concluirá que não existe qualquer modalidade musical proibida para se adorar a Deus. Isto é muito fácil de entender: todos os rítimos musicais foram criados por Deus para louvor de sua Glória. O Salmo 150 é um exemplo maravilhoso de liberdade e expressão para se louvar a Deus. Vejamos alguns versículos:
Louvem a Deus com trombetas.
Louvem com harpas e liras.
Louvem o SENHOR com pandeiros e danças.
Louvem com harpas e flautas.
Louvem a Deus com pratos musicais.
Louvem bem alto com pratos sonoros.
Todos os seres vivos, louvem o SENHOR!
Salmo 150.3-6 (NVLH)
Ocorre, entretanto, que as trevas se utilizam destes mesmos rítimos, criados para exaltar a Deus, para a propagação do mal. Que faremos pois? Deixaremos de lançar mão das coisas maravilhosas que Deus criou simplesmente porque o diabo, em seu oportunismo, a tem utilizado? Se esta for a nossa posição com relação ao funk, para sermos coerentes, teremos que abrir mão de muitas coisas: computador, televisão, revistas, jornais, roupas... Enfim, é simplesmente impossível. Tudo ao nosso redor tem sido usado pelo mal. Não apenas a música funk. Alguém pode não gostar de um rítimo musical, mas isto não é razão suficiente para rejeitá-lo, outros gostam. Isto é indiscutível. O fato é que a musíca funk tem o mesmo espaço na concepção divina que qualquer outra música quando o propósito é adorá-lo. E o que dizer das massas de jovens que estão perdidas no tráfico, nas drogas e na prostituição? Qual seria, porventura, a modalidade de música gospel que mais atrairia suas atenções? A resposta é óbvia: O GOSPEL FUNK. E isto pelo motivo psicológico já apresentado acima. Não há, portanto, um estilo musical mais adequado para a evangelização deste grupo social amante do funk. Não utilizar tal ferramenta poderosa para atraí-los a Cristo, em razão de preconceito ou qualquer outro motivo infundado, é um tremendo desperdício evangelístico, se não for também um ato pecaminoso:
Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para,
por todos os meios, chegar a salvar alguns. I Coríntios 9.22 (ARC)
Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado. Tiago 4.17 (ARC)
Destarte, a música gospel funk tem todas as possibilidades de ser um instrumento poderoso de evangelização, bem como um dentre os muitos estilos musicais utilizados com frequencia na adoração e culto a Deus.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CRONOLOGIA BÍBLICA


CRONOLOGIA BÍBLICA

Ø Adão com 130 anos gerou Sete, e morreu com 930 anos.
Ø Sete com 105 anos gerou Enos, e morreu com 912 anos.

Ø Enos com 90 anos gerou Cainã, e morreu com 905 anos.

Ø Cainã com 70 anos gerou Maalaleel, e morreu com 910 anos.
Ø Maalaleel com 75 anos gerou Jarede, e morreu com 890 anos.
Ø Jarede com 162 anos gerou Enoque, e morreu com 962 anos.
Ø Enoque com 65 anos gerou Metusalém, e viveu 365 anos.
Ø Metusalém com 187 gerou Lameque, e morreu com 969 anos.
Ø Lameque com 182 anos gerou Noé, e morreu com 777 anos.
Ø Noé com 500 anos gerou Sem, e morreu com 950 anos.
Ø Sem com 100 anos gerou Arfaxade, e morreu com 600 anos.
Ø Arfaxade com 35 anos gerou Salá. Este com 30 anos gerou Héber. Este com 34 anos gerou
Pelegue. Este com 30 anos gerou Reú. Este com 32 anos gerou Surugue. Este com 30 anos gerou Naor. Este com 29 anos gerou Terá. Este com 70 anos gerou Abraão.

Ø Abraão com 100 anos gerou Isaque, e morreu com 175 anos.
Ø Isaque com 60 anos gerou Jacó, e morreu com 180 anos.
Ø Jacó morreu com 147 anos.



v Adão foi contemporâneo de Metusalém por um período de 233 anos.
v Metusalém foi contemporâneo de Sem por um período de 100 anos, e de Noé por um período de 600 anos.
v Noé foi contemporâneo de Abraão por um período de 50 anos.
v Sem foi contemporâneo de Abraão por um período de 175 anos (ou seja, durante toda
sua vida), e de Isaque por período de 100 anos, e de Jacó por 40 anos.

§ Entre Abraão e o primeiro homem criado por Deus, Adão, houve apenas dois
intermediários: Metusalém e Sem. Isto se explica por dois motivos: primeiro, o
pecado estava no início de sua obra de devastação e, por isso, havia maior
longevidade. O segundo motivo da longevidade tinha por propósito favorecer a
tradição oral do conhecimento de Deus, uma vez que não havia a escrita para tal
registro, ocorrendo tão-somente no tempo do Patriarca Abraão.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O VALOR DA AUTO-ESTIMA

O VALOR DA AUTO-ESTIMA


A auto-estima, juntamente com o amor-próprio, é a base para o ser humano. É a cura para todas as dificuldades e sofrimentos. E mais, é a cura para todas as doenças de origem emocional e relações destrutivas. A auto-estima começa a se formar na infância, a partir de como as outras pessoas nos tratam. Ou seja, as experiências do passado exercem influência significativa na auto-estima quando adultos. Perde-se a auto-estima
quando se passa por muitas decepções, frustrações, em situações de perda, ou quando não se é reconhecido por nada que faz. O que abala não é só a falta de reconhecimento por parte de alguém, mas principalmente a falta de reconhecimento por si próprio.


Quando a auto-estima está baixa a pessoa se sente inadequada, insegura, com dúvidas, incerta do que realmente é, com um sentimento vago de não ser capaz. Melhore sua auto-estima! Clique aqui e veja se você está dentro do peso saudável. Não acredita ser capaz de ter alguém que a ame, de fazer aquilo que quer, de se cuidar, desenvolvendo assim um sentimento de insegurança muito profundo, desistindo facilmente de tudo que começa.


Como ela mesma não se ama, se sujeita a qualquer tipo de relação para ter alguém ao seu lado, tornando-se dependente de relações destrutivas e não conseguindo forças para sair delas. Vale lembrar que esse processo acontece inconscientemente. A pessoa não tem consciência do porque está agindo assim, apenas sente o sofrimento que pode se expressar em forma de angústia, dor no peito, choro, pesadelos, vazio, agressividade,
depressão, punição, doenças.


Culpam os outros pelos próprios erros, encaram todas as críticas como ataques pessoais e tornam-se dependentes de relações doentes. O maior indicador de uma pessoa com baixa auto-estima é quando sente intensa necessidade de agradar, não consegue dizer "não", busca aprovação e reconhecimento por tudo o que faz, sempre querendo se sentir importante para as pessoas, pois na verdade, não se sente importante para si mesma. Com isso, se abandona cada vez mais.


A auto-estima também influencia a escolha dos relacionamentos. Aqueles com elevado amor-próprio em geral atraem pessoas com a mesma característica, gerando uniões saudáveis, criativas e harmoniosas. Já a baixa auto-estima acaba atraindo ou mantendo relacionamentos destrutivos e dolorosos. Quando há amor-próprio não se deixa envolver nem manter relações destrutivas. Há também uma relação direta e muito importante entre desempenho profissional e auto-estima, mas esse é outro assunto.


A auto-estima influencia tudo que fazemos, pois é o resultado de tudo que acreditamos ser, por isso o autoconhecimento é de fundamental importância para aumentar a auto-estima. Ou seja, confiar em si mesmo, ouvir sua intuição, acreditar em sua voz interior, respeitar seus limites, reconhecer seus valores, expressar seus sentimentos sem medo, sentir-se competente, capaz e se tornar independente da aprovação dos outros, tudo isso faz com que a auto-estima se eleve. Mas é um processo gradativo que exige trabalho e conscientização.


Na verdade, todos estamos à procura de amor. E esse sentimento ainda é o que rege tudo o que buscamos, fazemos e somos. Principalmente o amor por si mesmo, que é a base da construção da auto-estima.


Autor desconhecido

segunda-feira, 13 de junho de 2011

OS DEZ MANDAMENTOS DAS RELAÇÕES HUMANAS

OS DEZ MANDAMENTOS DAS RELAÇÕES HUMANAS


FALE com as pessoas. Não há nada tão agradável e animado quanto uma palavra de saudação, particularmente hoje em dia quando precisamos mais de sorrisos amáveis.

SORRIA para as pessoas. Lembre-se, que acionamos 72 músculos para franzir a testa e somente 14 para sorrir.

CHAME pelo nome. A música mais suave para muitos, ainda continua sendo o próprio nome.

SEJA amigo e prestativo. Se você quer ter um amigo, seja um amigo.

SEJA cordial. Fale e aja com toda sinceridade: tudo o que fizer, faça-o com todo o prazer.

INTERESSE-SE sinceramente pelos outros. Mostre que as coisas da qual gostam e com as quais se preocupam também têm valor para você, de forma espontânea, sem precisar se envolver diretamente.

SEJA generoso em elogiar, cauteloso em criticar. Os líderes elogiam. Sabem encorajar, dar confiança, e elevar os outros.

SAIBA considerar os sentimentos dos outros. Existem três lados em qualquer controvérsia: o seu, o do outro, e o que está certo.

PREOCUPE-SE com a opinião dos outros. Três comportamentos de um verdadeiro líder: ouça, aprenda e saiba elogiar.

PROCURE apresentar um excelente trabalho. O que realmente vale nessa nossa vida é aquilo que fazemos para os outros.

Autor desconhcido

terça-feira, 7 de junho de 2011

O CONTROLE DAS EMOÇÕES

O CONTROLE DAS EMOÇÕES

Desde os tempos de Platão, o senso de autodomínio, de poder agüentar as tempestades emocionais que trazem as desgraças da sorte sem ser "escravos da paixão", tem sido louvado. O objetivo que devemos atingir é o equilíbrio mental e psicológico não a eliminação das emoções: todo sentimento tem seu valor e sentido. Mas, precisa-se da emoção controlada, o sentimento proporcional à circunstância. Quando as emoções são abafadas demais, criam o embotamento e a distância; quando extremas e persistentes demais tornam-se patológicas, como na depressão paralisante, na ansiedade esmagadora, na raiva demente e na agitação maníaca.

As pessoas não precisam evitar sentimentos desagradáveis, eles podem contribuir para uma vida criativa e espiritual. Só devemos impedir que eles desloquem contigo todos os demais estados de espíritos agradáveis. Controlar nossas emoções é uma atividade de tempo integral: muito de que fazemos é uma tentativa de controlar o estado de espírito. Tudo, desde ler um romance ou ver televisão até as atividades e companhias que preferimos, pode ser uma maneira e nos sentirmos melhor.

No plano do cérebro muitas vezes temos pouco ou nenhum controle sobre quando seremos arrebatados pela emoção e sobre qual emoção eclodiremos. Mas podemos ter alguma voz sobre o quanto durará uma emoção. A tristeza, preocupação ou ira habituais passam com o tempo, mas quando as emoções são intensas demais como a ansiedade crônica, a ira descontrolada ou a depressão, podem exigir medicação e/ou psicoterapia.

Hoje, um sinal da incapacidade de autocontrole emocional pode ser o reconhecimento de quando a agitação crônica do cérebro emocional é demasiado forte para ser superado sem a ajuda farmacológica.

Mecanismo da Raiva e seu Controle

"A ira jamais é sem motivo, embora raramente um bom motivo". (Benjamim Franklin). Em parte a afirmativa acima é confirmada em Goleman quando acha que deve haver liberação da ira até mesmo com perda da cabeça, mas nunca devendo resultar em comportamentos induzidos por ela.

Existem vários tipos diferentes de raiva. As amídalas bem podem ser uma fonte principal da súbita centelha de cólera que sentimos quando estamos em perigo. Mas é mais provável que no outro extremo dos circuitos emocionais, o neocórtex, fomente raivas mais calculadas, como a fria vingança ou indignação com a injustiça. De todos os estado de espírito de que as pessoas querem escapar, a raiva é aquele que elas têm mais dificuldade para controlar. Ela é a mais sedutora das emoções negativas. Ao contrário da tristeza, a raiva energiza e até mesmo exalta. As pessoas inundam a mente dos mais convincentes argumentos e justificativas para dar-lhe razão. O poder sedutor e persuasivo da raiva pode em si explicar porque algumas opiniões sobre ela são tão comuns: que é incontrolável ou que, não deve ser controlada e que lhe dar vazão numa "catarse" faz bem. Esta visão em relação à raiva é enganosa. Ela pode ser inteiramente evitada se evitarmos ruminações e procurarmos ver as coisas de uma outra forma, encontrar o lado positivo da situação.

Um disparador universal da raiva é "estar em perigo". O perigo pode ser uma ameaça física direta, ameaça simbólica a auto-estima ou dignidade, tratamento injusto ou grosseiro, insulto ou humilhação etc. Essas percepções atuam como gatilho instigante de uma onda límbica, que tem um duplo efeito sobre o cérebro. Uma parte dessa onda é a liberação de catecolaminas, que geram um rápido surto de energia que dura alguns minutos, durante os quais o corpo se prepara para uma boa briga ou fuga, dependendo de como o cérebro racional avalia a posição. Outra via impulsionada pela amídala percorre o ramo hipotálamo-adrenocortical, cria um passo de fundo tônico geral de prontidão para a ação, que pode durar horas ou até mesmo dias fazendo com que o cérebro fique em vigia e reações posteriores formem com total rapidez. Quando o corpo já se acha em estado de irritação devido a algum estímulo, pode disparar, um seqüestro emocional de intensidade especialmente grande. Esta dinâmica atua quando alguém se zanga. A raiva não tolhida pela razão facilmente explode em violência. Nesse ponto, as pessoas não perdoam e estão além do alcance da razão, que com ela ficou conivente. Seus pensamentos giram em torno da vingança e represália, indiferente às conseqüências.

A raiva pode ser completamente interrompida se uma informação mitigante vier antes\que se dê vazão a ela. Pois esta informação mitigante permite uma reavaliação dos\atos que provocam a raiva. Mas ela só funciona em níveis controlados de raiva, pois\em níveis mais elevados para certos indivíduos há uma "incapacitação cognitiva" – as pessoas não mais pensam direito.

Outro poderoso artifício moderador do estado de espírito é a distração, a diversão, mudar de ambiente, afastar-se da outra pessoa no momento da discussão. Dar vazão à raiva é uma das piores maneiras de esfriar: as explosões de raiva tipicamente inflam o estímulo no cérebro, deixando as pessoas mais iradas. Talvez soltar a raiva funcione: quando ela é expressa diretamente à pessoa visada, quando devolve o senso de controle ou corrige uma injustiça. Porém, muito mais acertivo é a pessoa esfriar o cérebro por criar alternativas intelectuais e depois de forma mais construtiva enfrentar a outra pessoa.

Funkestein, 1969. A fisiologia do medo e da raiva. In Scientific American, Psicobiologia. São Paulo: Polígono, 209-214.