terça-feira, 6 de maio de 2014

Piaget e a Interação Social


Piaget, assim como Freud, é considerado um dos grandes ícones da Psicologia Moderna. Enquanto Freud é o pai da Psicanálise, Piaget é o pai da Psicogenética. Ambos iniciaram linhas de conhecimentos psicológicos diferentes. A partir daí, respectivamente, estabeleceram-se escolas de pensadores que interpretaram e ampliaram seus trabalhos. A Psicanálise, por exemplo, teve vários teóricos: M. Klein, M. 

Mahler, Kohut, Lacan, Winnicott, Bion, etc. Tendo como bases os escritos de Freud, todos produziram algum novo conhecimento psicanalítico. Como isso é possível? O pai de uma Teoria como Freud, Piaget e outros, não consegue esmiuçar a produção de conhecimento de suas Obras, haja vista a riqueza de detalhes relevantes das mesmas. Assim sendo, essa missão sempre fica para outros pensadores que aprofunda algo que foi apenas superficialmente tratado ou subentendido na gênese da Teoria. 

Piaget não foge à regra. Dentre os autores que poderia ser citados, Joaquim Ferreira Xavier Jr. expandiu a Teoria da Psicogenética. Ele inicia seu livro: "A PSICOGENÉTICA - Demarcando os Processos da vida" enfatizando sua proposta de mergulhar em um mar que Piaget apenas molhou os pés. Preconizou, portanto, tal intenção eloquentemente: "Piaget supôs, mas não mapeou nem organizou os elementos dos processos proprioceptivos";  "Os esquemas adquiridos sobre os reflexos sensoriais flagrados e descritos por Piaget têm caracteres claramente cognitivos, mas re-observados, revelam também caracteres de esquemas adquiridos sobre interação reflexa de envolvimento, desde os primeiros dias do nascimento"; "Estudando Piaget, trabalhando suas conclusões e re-observando crianças e adolescentes sob o enfoque duma 'Interacionalogia Genética', pude discriminar em grande parte dos esquemas Cognitivos o caráter de envolvimento [afetivo] para o qual Piaget apenas acenou"; "A observação Psicogenética desenvolveu seu foco Interacional instigada pelo pensamento epistemológico de Piaget, psicólogo do desenvolvimento que sinalizou e supôs, mas não mapeou nem organizou, os elementos do Envolvimento Interacional". 

Brilhantemente, Xavier Jr. discorreu, na obra supracitada, sobre duas características essenciais para o desenvolvimento humano chamando-as de "Pólos Fundantes da Pessoa". O primeiro pólo é denominado Pólo Genético. Esse pólo compreende todo sistema corporal e neuronal do bebê cujo controle está no SNC. O bebê com formação normal, nascerá dotado com todos os receptores neuronais aptos a receberem a "expressão genética" estimuladas pelo ambiente físico, isto é, frio, calor, som, cheiro, luz,etc. Essa primeira parte, da psicogenética do autor em questão, foi bem aprofundada por Paiget. Xavier Jr. pinçou e desenvolveu de Piaget a segunda parte: o "Pólo Humano". Esse pólo, ainda que seja subsequente, é tão necessário quanto o primeiro para a concretização da pessoa humana. Sua função é interagir com o pólo genético, como afirma Xavier Jr. "Como 'Pólo Humano' coloca-se o ambiente adulto ativando e recontextualizando a primeira 'expressão genética". O engendramento desses pólos fundantes da pessoa recebeu o nome de "Parceria Primal". Sobre essa parceria, o ilustre mestre diz o seguinte: "É, pois, a Parceria que contextualiza e integra o bebê em si mesmo e no tecido relacional hunamo".

Destarte, pode-se afirmar que a Obra Piagetiana contempla a interação social como imprescindível para o desenvolvimento humano. Ainda que ele mesmo não tenha aprofundado sua pá nessa direção, contudo deixou sinalizado e subentendido para que outros garimpassem neste rico solo. Considerando que dos 25 livros que compoem a bibliografia do trabalho de Xavier Jr., 23 são de Paiget e 1 é de Flavell comentando Piaget, é irrefutável que ele tenha se inspirado em Piaget. Por isso, ele se constitui no arqueólogo da psicogenética que trouxe à luz o que estava soterrado, fora do alcance dos que veem Piaget com olhos míopes. O festejado autor, dentre várias afirmações sobre o pólo humano, escreve: "A pesquisa 'genética' já comprovou que não existe a chamada 'tábula rasa', oferecendo assim mais um elemento de evidência do Pólo de 'ativação do ambiente humano' como o outro Pólo fundante da pessoa. No genoma existem os sinais interacionais da espécie humana, mas a Energia Interacional da Pessoa somente é consumada pela ativação do ambiente adulto".

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