segunda-feira, 4 de maio de 2009

CONHECIMENTO & JULGAMENTO

CONHECIMENTO & JULGAMENTO

INTRODUÇÃO

Todo ser humano, independentemente da época e do lugar de seu nascimento, foi dotado de algum nível do conhecimento de Deus, e por isso tem a obrigação de andar diante Dele de acordo com a luz desse conhecimento. O julgamento que Deus infligirá à raça humana, no Juízo Final, será pautado justamente neste conhecimento que Ele repartiu a cada um. Aos que receberam pouco, pouco também se cobrará, porém aos que muito receberam, muito também se cxigirá (Lucas 12.48).


1- DEUS SE REVELA AO HOMEM ATRAVÉS DE SUAS OBRAS

“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras até os confins do mundo”. (Salmos 19.1-4 – NVI)

Este texto, escrito pelo salmista Davi, que era também profeta, nos ensina claramente que Deus se dá a conhecer através de suas obras. Elas, silenciosamente, testemunham de forma inequívoca sobre a existência de Deus. E este testemunho cobre toda a terra. Isto significa dizer que desde a criação dos céus, da terra e de todas as coisas que neles há, este meio de expressão sempre foi utilizado por Deus para se revelar ao homem.

O homem foi dotado de uma capacidade singular para perceber seu Criador. Estudos antropológicos têm provado que o ser humano é religioso por natureza. Intuitivamente, ele pode conhecer a Deus por meio de suas várias faculdades de percepção da realidade. O Criador, conhecendo tais possibilidades que Ele mesmo implantou em sua criatura, se utiliza também de variados meios para se revelar à raça humana. A obra de suas mãos revelada neste salmo é, portanto, uma das maneiras pelas quais o homem pode conhecer a Deus. Conseqüentemente, haverá também uma responsabilidade inata nesta revelação divina, haja vista que o destinatário de tal conhecimento deverá, um dia, prestar contas de sua própria vida, isto é, de todas as ações e omissões, com base em todo conhecimento que adquiriu de Deus durante o percurso de sua vida.

Isto implica dizer que, no dia do Juízo Final, do Grande Trono Branco (Apocalipse 20.11), ninguém poderá se eximir de sua responsabilidade diante de Deus alegando nunca ter sido evangelizado, ou ter vivido antes do advento de Cristo, ou não ter sido civilizado, etc., pois o Criador tem se revelado através de suas obras a todo ser humano, em todos os tempos e lugares.
Cabe salientar que toda forma de revelação de Deus ao homem são “boas novas” ou “evangelho” para este, uma vez que Deus o ama e procura sempre abençoá-lo. Embora que esta mesma revelação, que é uma bênção, possa se tornar em uma maldição para o homem, quando este desobedece deliberadamente à mesma, tendo que arcar com as conseqüências de suas ações e atitudes rebeldes à revelação recebida. Todavia, Deus considera esta revelação como “boas novas” ou “evangelho”, que tem o mesmo significado.

O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, também compreendeu que as revelações de Deus ao homem são como “boas novas” ou “evangelho”, ainda que as mesmas fossem dadas antes da manifestação de Cristo, que foi o clímax de Sua revelação ao homem. Paulo, tecendo tais comentários, escreveu o seguinte:

“Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até os confins do mundo”. (Romanos 10.16-18 – ARA)

Este texto tem sido mal compreendido por alguns. Usa-se tal passagem bíblica para fundamentar o ensino de que o evangelho foi pregado em todo o mundo pelos apóstolos. No entanto, o que temos aqui é a citação paulina do Salmo 19.4. Ele faz referência justamente ao tipo de revelação que Deus tem usado, desde os primórdios da criação, para se dar conhecer ao homem. Sabemos que Paulo foi o maior ícone na expansão do cristianismo, escrevendo a metade do Novo Testamento e sendo o instrumento que Deus usou para sistematizar a fé cristã. O apóstolo, destarte, foi o que recebeu mais iluminação sobre esta forma de expressão divina ao ser humano. Assim, ele pôde falar sobre o assunto em tela em várias ocasiões:

“O qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos. Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações.” (Atos 14.16,17)

“Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Romanos 1.18-21)


2- DEUS SE REVELA AO HOMEM EM SUA CONSCIÊNCIA

O mesmo apóstolo discorre sobre outra forma de revelação de Deus ao homem. Ele argumenta, sob a inspiração divina, que Deus há de julgar cada pessoa segundo as suas obras:

“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em favor do bem, procuram glória, e honra e incorrupção; mas ira e indignação aos que são contenciosos, e desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade; tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; pois para com Deus não há acepção de pessoas”. (Romanos 2.5-11)

Não haverá acepção de pessoas em tal julgamento. Todos hão de passar pelo mesmo critério, a saber: “a revelação do conhecimento de Deus”. Paulo continua em seu discurso inspirado explicando que os que receberam a revelação escrita de Deus – a lei – serão julgados por esta mesma revelação. E os que não tiveram tal revelação, todavia não ficaram sem revelação divina, pois Deus os outorgou, intuitivamente, em suas consciências. Assim, quer tenhamos a revelação escrita ou quer tenhamos a revelação intuitiva, todos seremos julgados de acordo com o nível de revelação que tivermos recebido da parte de Deus. E este julgamento, nestes termos, haverá de trazer condenação ou salvação aos homens de acordo como os mesmos procederam diante de tais revelações divinas. É isto que o apóstolo aos gentios, sob inspiração do Espírito Santo, nos ensina:

“Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei (porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei. pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os), no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Cristo Jesus, segundo o meu evangelho”. (Romanos 2.12-16)


3- O JULGAMENTO FINAL DO GRANDE TRONO BRANCO

Tudo o que foi falado até aqui sobre o julgamento pelo qual o homem passará acontecerá no Julgamento do Grande Trono Branco, previsto no livro de Apocalipse. Cabe salientar que os que morreram em Cristo não passarão por qualquer tipo de julgamento desta natureza, isto é, julgamento para salvação ou condenação. Haverá apenas o Tribunal de Cristo para a recompensa das obras efetuadas pelos filhos de Deus. Mesmo que algum crente salvo em Cristo não tenha qualquer galardão neste tribunal, todavia o mesmo não será condenado, pois “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1).

Há algumas considerações que devemos fazer ao analisar o texto bíblico pertinente que trata deste julgamento final:
“Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.” (Apocalipse 20.11-15 – ARA)

Todos que morreram sem a salvação em Cristo Jesus hão de ressuscitar neste dia para o julgamento em tela. Mesmo aqueles que nunca ouviram o evangelho ou viveram em épocas e lugares remotos sem qualquer revelação escrita da parte de Deus tal como conhecemos hoje. Como foi discutido acima, os que não possuem a revelação escrita não serão escusados diante de Deus, pois o mesmo lhes conferiu sua revelação através da criação e também por meio intuitivo pela consciência.
Depois do período Milenar de Cristo aqui na terra, ocorrerá o evento da 2º Ressurreição que terá como destinatários justamente estes que não fizeram parte da 1º Ressurreição, que compreendeu somente os que morreram em Cristo. Neste julgamento serão abertas duas espécies de livros – os livros das obras e o Livro da Vida. Os livros das obras trazem o registro fiel e personalizado de todas as ações humanas relacionas com o nível de conhecimento de Deus que cada um possuía na ocasião de tal obra. Já o Livro da Vida traz o registro, também fiel e personalizado, de todos que alcançaram a salvação, e, portanto, não serão lançados no Inferno.

Dentro deste capítulo é oportuno e inquietante se fazer uma grande pergunta: HÁ POSSIBILIDADE DE SALVAÇÃO EM TAL CONTEXTO? Não há uma resposta fácil e simples para tal pergunta. No entanto, mediante tudo o que já foi discorrido até o momento, ouso a dar o meu parecer sobre o assunto, julgando ter bases bíblicas sólidas para tal conclusão.
Em primeiro lugar, o texto bíblico fala por duas vezes em “julgamento”:

"E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros". "E foram julgados, um por um, segundo as suas obras".

Isto implica dizer que o Grande Trono Branco foi estabelecido para julgamento e não condenação. E em todo julgamento há possibilidade de Condenação ou Absolvição. Não há qualquer indício no texto em questão que nos faça crê que todos os julgados serão condenados. Não há tal possibilidade. Creio sim que neste julgamento há possibilidades de salvação. Na verdade creio que haverá salvação para aqueles que procuraram andar na luz do conhecimento de Deus que possuíam, conforme já foi visto no capítulo anterior. Sim, para os que não tiveram o privilégio, que muitos tiveram, de conhecer a Deus da forma que temos conhecido, mas que procuraram andar de acordo com esta pequena luz de Deus que tinham em seus corações, conforme o apóstolo Paulo afirma:

“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei. pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os”

Creio piamente que estes poderão ser salvos com base no sacrifício de Cristo através da obediência que tiveram ao conhecimento de Deus recebido, ainda que este conhecimento fosse muito pequeno. Deus não é injusto. Ele não poderia condenar quem quer seja simplesmente pelo fato de não ter tido a oportunidade de conhecê-lo da forma como muitos o conhecem. O critério deste julgamento será o nível de conhecimento que se obteve da parte de Deus e o procedimento do indivíduo em relação ao mesmo conhecimento. Isto sim definirá toda questão e determinará a salvação ou condenação eterna dos que passarão por este julgamento. O próprio Senhor Jesus falou a respeito deste critério divino de julgamento quando disse que haveria menos rigor no Juízo Final para algumas pessoas que viveram em épocas e lugares diferentes das pessoas de seu tempo. Em outras palavras, as pessoas que tiveram o privilégio de vivenciar o ministério de Cristo teriam uma responsabilidade muito maior diante de Deus do que as pessoas que não tiveram tal oportunidade:

“Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo”. (Mateus 11.20-24)

“E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés. Em verdade vos digo que, no Dia do Juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade”. (Mateus 10.14,15)

Há ainda um ponto muito relevante no texto bíblico apocalíptico em tela que também fortalece a tese defendida de que haverá salvação no Juízo Final:

"E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo"

Fala-se neste texto, explicitamente, que somente serão condenados nesta ocasião os que não tinham seus nomes escritos no Livro da Vida. Não estamos falando aqui dos crentes em Jesus que já estão salvos. Trata-se, tão-somente, dos que passaram pelo julgamento do Trono Branco, ou seja, o Juízo Final. As Escrituras nos revelam neste texto que mesmo os que forem julgados nesta ocasião poderão já estar com seus nomes escritos no Livro da Vida, e, conseqüentemente, serem salvos. O julgamento destes será apenas para cumprir um rito divino e para demonstrar e justificar publicamente que em função deles ter obedecido à revelação divina alcançaram a salvação eterna.

Por outro lado, considerando que um dos Atributos de Deus é a Onisciência, Ele sabe, desde a fundação do mundo, quantos haverão de obedecê-lo e ser salvo. Jesus Disse: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”. Ainda que Deus não interfira destinando a quem quer que seja ao céu ou ao inferno, como quer a doutrina da “Predestinação”, o Senhor do Universo sabe de antemão quem se submeterá a Ele ou quem o rejeitará, embora respeite o livre-arbítrio do homem. Assim sendo, por meio de sua Onisciência, Ele pode registrar, antecipadamente, os nomes de todos, desde a fundação do mundo, que serão salvos no Livro da Vida:
“Adoraram-na, então, todos os habitantes da terra cujo nome não está escrito desde a fundação do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado” (Apocalipse 13.8 – Bíblia de Jerusalém).

Destarte, é perfeitamente coerente afirmar a possibilidade de salvação para os que serão julgados no Juízo Final, cujos nomes já se encontram registrados no Livro da Vida.


CONCLUSÃO

Assim sendo, concluímos nosso estudo incentivando que todos andem à luz do conhecimento que tem recebido da parte de Deus, pois tal conhecimento, conforme já foi visto, pode ser uma bênção ou maldição. Dependendo de como procedermos diante de tal revelação que temos recebido de Deus seremos felizes ou infelizes.

O segredo da felicidade eterna, portanto, é andar conforme o conhecimento que cada pessoa já possui da vontade de Deus em seu procedimento diário. Este era também o entendimento do apóstolo Paulo quando aconselhou os filipenses a viver de acordo com a revelação de Deus que eles já tinham alcançado:

“Tão-somente vivamos de acordo com o que já alcançamos”. (Filipenses 3.17)

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