quinta-feira, 14 de maio de 2009

AS CARTAS PASTORAIS

INTRODUÇAO

As duas epístolas a Timóteo e a epístola a Tito, comumente agrupadas e chamadas juntamente de “Epístolas Pastorais”, pertencem ao período do fim da vida de Paulo e provêem valiosa informação acerca dos pensamentos do grande apóstolo missionário, quando ele se prepara para transmitir a sua tarefa a outros. Foram endereçadas a dois de seus mais íntimos associados, e por este motivo introduzem uma diferente espécie de correspondência paulina em comparação com as epístolas eclesiásticas anteriores.

I – A Situação Histórica

É difícil reconstruir esse período da vida de Paulo, pois não existe relato independente confirmador tal como o livro de Atos supre no caso das suas primeiras Epístolas. Porém, certos informes podem ser obtidos pelas próprias Epístolas. No tempo em que escreveu a primeira a Timóteo e Tito, o apóstolo não se encontrava na prisão, porém quando II a Timóteo foi escrita Paulo era não somente um prisioneiro (1.8 2.9), mas parece que estava às vésperas de ser julgado e condenado à morte, pois a grande probabilidade é que nesse julgamento o veredicto lhe fosse adverso e resultasse em sua execução (4.6-8). À base de I Tm 1.3, é claro que Paulo bem recentemente estivera nas circunvizinhanças de Éfeso, onde deixara Timóteo a fim de cumprir uma missão específica, principalmente administrativa.

A epístola a Tito provê históricos adicionais, pois baseados em 1.5 dessa Epístola podemos inferir que Paulo fizera uma visita recente a Creta, na qual oportunidade deve ter tido a ocasião de verificar as condições das igrejas e de proporcionar instruções específicas a Tito para a retificação de quaisquer deficiências. Na conclusão dessa Epístola (3.12), o apóstolo exorta Tito para que viesse fazer-lhe companhia em Nicópolis durante o inverno, sendo bastante segura a suposição que essa era a cidade situada no Épiro, em qual caso se trata da única referência à visita de Paulo naquele distrito. Tito foi igualmente instruído a ajudar Zenas e Apolos na viagem dos mesmos (3.13), mas o sentido exato dessa alusão é obscura.

II a Timóteo é uma carta muito mais específica quanto a informações históricas. Em 1.16, Paulo se refere a Onesíforo como alguém que o procurou estando o apóstolo em Roma, o que sugere que o escritor sagrado continuava em Roma como prisioneiro. Em 4.16 ele menciona um julgamento anterior, o qual é geralmente considerado como o exame preliminar que preparava para o julgamento oficial perante as autoridades romanas. Paulo faz uma interessante solicitação, em 4.13, ao pedir uma capa que ele havia deixado na casa de Carpo, em Trôade, o que parece deixar subentendido que ele estivera recentemente ali em visita. Nessa mesma passagem Paulo menciona que deixara Trófimo enfermo recentemente em Mileto (4.20), enquanto que Erasto, um de seus associados, ficara para traz, em Corínto É impossível fazer coincidirem todos esses informes históricos, tal qual estão, com a história do livro de Atos e, por conseguinte, não temos outra alternativa, se tivermos de supor a sua autenticidade, senão aceitar que Paulo foi solto do aprisionamento mencionado no término do livro de Atos, que teve um período de novas atividades no oriente, e que foi novamente aprisionado, julgado, e finalmente executado em Roma pelas autoridades imperiais.

Os informes de que dispomos nas Epístolas Pastorais são insuficientes para facilitar a reconstrução do itinerário seguido por Paulo, mas pelo menos é certo que ele esteve ativamente ocupado na Grécia, em Creta e na Ásia depois daquele primeiro aprisionamento. Alguns estudiosos, baseados em Romanos 15.24,28, também têm feito incluir nesse período uma visita à Espanha e, se essa suposição é correta, então essa visita ao ocidente deve ter precedido o retorno de Paulo às igrejas orientais. Porém, se a escrita das Epístolas aos Colossenses, a Filemom e aos Filipenses for atribuída ao tempo do aprisionamento em Roma parece claro que Paulo tinha o rosto voltado para o oriente e não para o ocidente, por ocasião de seu livramento.

II – Propósito

Assumindo-se, portanto, que todas as três Epístolas Pastorais foram escritas dentro de um intervalo de tempo comparativamente curto, precisamos observar em seguida que elas têm um propósito em comum. Todas tiveram o desígnio de suprir os associados de Paulo em exortações e encorajamentos, tanto para as presentes como para as futuras responsabilidades. Há muitas instruções sobre a administração eclesiástica, mas seria errôneo supor que tais instruções esgotam completamente o propósito profundo de cada uma dessas Epístolas. Dentre elas, o motivo da escrita aparece com mais clareza em II a Timóteo.

O apóstolo estava apresentando sua exortação final ao seu tímido sucessor, e no decurso dessa exortação lembra a Timóteo a sua história anterior (1.6,8,13 – 2.1,22 – 3.14 – 4.1), o que parece sugerir que Paulo não estava muito certo de sua coragem em face das pesadas responsabilidades agora postas sobre os ombros de Timóteo. O apóstolo anseia vê-lo novamente, e por duas vezes insiste para que Timóteo venha para sua companhia o mais prontamente possível (4.9,21), ainda que a tonalidade da parte final da Epístola sugira que Paulo não estava convencido que as circunstâncias permitiriam a chegada de Timóteo em tempo (4.6). Encontramos advertências acerca de homens ímpios, que provocam perturbações na Igreja, tanto no presente como nos últimos dias (3.1), e Timóteo é aconselhado a evitar os tais. Pelo contrário, cumpre-lhe a tarefa de entregar a homens dignos a tarefa de dar continuação às tradições cristãs que ele mesmo recebera (2.2).

O propósito por detrás das duas outras epístolas não é tão óbvio, pois em ambas as instâncias Paulo apenas recentemente havia-se separado de seus endereçados, e a necessidade de tão detalhadas instruções não se torna prontamente evidente. Parece provável que muitos assuntos explorados já tivessem sidos tratados oralmente, pois em ambas as Epístolas são dadas qualificações detalhadas acerca dos ocupantes dos principais ofícios da Igreja, e é inconcebível que até então nem Timóteo nem Tito tivessem ainda recebido qualquer instrução neste sentido. Com toda a probabilidade essas Epístolas tiveram a intenção de fortalecer as mãos dos representantes de Paulo em suas respectivas tarefas. Timóteo parece ter encontrado alguma dificuldade em fazer-se respeitar (I Tm 4.12), enquanto que Tito tinha a seu encargo um grupo de ouvintes pouco invejáveis em Creta, de conformidade com Tito 1.10. Ambos os homens precisavam preocupar-se sobriamente com a sã doutrina e a conduta correta, ensinando essas coisas aos outros (I Tm 4.11 – 6.2 – Tt 2.1,15 – 3.8).

Não se poderia esperar que nessas Epístolas o apóstolo viesse a apresentar aos seus amigos mais chegados qualquer coisa pertencente à natureza de tratados teológicos. Não havia qualquer necessidade em demorar-se nas grandes doutrinas cristãs, pois tanto Timóteo como Tito devem ter desfrutado freqüentemente das exposições orais saídas dos lábios do grande mestre e apóstolo. Todavia, precisavam ser relembrados sobre a futilidade de desperdiçar tempo com certos grupos de falso mestre cujos ensinamentos se caracterizavam por coisas sem a menor importância e por combates verbosos que não conduziam a coisa alguma (I Tm 1.4 – 4.1 – 6.3). Não parece haver qualquer conexão íntima entre essas heresias nas igrejas de Éfeso e de Creta e aquela heresia que foi combatida por Paulo em sua carta aos colossenses, ainda que possa ter sido diferentes manifestações da tendência que posteriormente se transformou no gnosticismo do segundo século.

III – Autenticidade

A crítica moderna tem desafiado de tal modo a autoria dessas Epístolas que a atestação dada pela Igreja primitiva se reveste de importância primária em um exame eqüitativo sobre a questão inteira. Existem poucos escritos do Novo Testamento melhor atestado que as Epístolas Pastorais, pois elas eram largamente usadas desde os dias de Policarpo, havendo vestígios possíveis das mesmas nas primeiras obras de Clemente de Roma e de Inácio. A omissão dessas epístolas no cânon Márciom (140 d. C.) tem sido consideradas por alguns como evidência que nesta época não eram ainda conhecidas, porém, em vista de sua propensidade para eliminar o que não lhe agradava ou o que descordava de sua doutrina, essa linha de evidência dificilmente pode ser tomada a sério. A única outra evidência possível quanto a omissão dessas Epístolas são os papiros de Chester Beatty. Mas, visto que são incompletos, é novamente precário basear qualquer hipótese positiva sobre a evidência dos mesmos, especialmente considerando-se o fato que as Epístolas Pastorais eram conhecidas e usadas no oriente num período mais antigo que o representado por esses papiros.

As objeções contra a autenticidade das Epístolas Pastorais, por conseguinte, devem ser reputadas por inovações modernas contrárias a mais clara evidência que nos é dada pela Igreja primitiva. Essas objeções começaram a ser feitas com seriedade desde o ataque de Schleiermacher contra a genuinidade de I Timóteo (1807) e têm sido desenvolvidas por muitos outros eruditos, entre os quais os mais notáveis têm sido F. C. Baur, H. J. Holtzmann, P. N. Harrison, e M. Dibelius. Tais objeções têm-se fundamentado sobre quatro problemas principais. Em diferentes período da crítica têm sido dada proeminência a esta ou aquela dificuldade, mas é provavelmente o efeito cumulativo que tem persuadido alguns eruditos modernos de que essas Epístolas não ter sido de Paulo.

(a) O Problema Histórico

Conforme já foi mencionado, a situação histórica não pode pertencer ao período da história relatada no livro de Atos e a conseqüente necessidade de postular uma teoria de livramento tem levado alguns eruditos a sugerirem teorias alternativas. Ou todas as referências pessoais são invenções do autor, ou então algumas delas são observações genuínas que foram incorporadas nas produções do próprio autor. Jamais houve uma posição que ao menos se aproximasse de um acordo entre os advogados desta última alternativa quanto à identificação das “observações”, teoria esta que também está sujeita a suspeitas. Além disso, a noção de escritor falseador a produzir observações pessoais de tal verossimilhança é improvável, e nenhuma dessas teorias é necessária se for mantida a suposição perfeitamente razoável que Paulo foi solto depois de seu primeiro aprisionamento em Roma.

(b) O Problema Eclesiástico

Tem sido asseverado que a situação eclesiástica reflete um estado de coisas próprio do segundo século de nossa era, mas essa crítica tem sido por demais influenciada pela suposição que:
(1) o gnosticismo do segundo século é combatido nessas epístolas,
(2) que a organização da Igreja estava por demais desenvolvida para aquele período tão primivo de Paulo. A força dessa primeira suposição é reduzida a nada pelo o conhecimento moderno crescente de que o gnosticismo possuía raízes muito mais antiga do que se imaginou há algum tempo, e que a forma de heresia combatida nessas Epístolas está longe de ser o gnosticismo bem desenvolvido. A segunda suposição é igualmente débil em vista do fato que a organização da Igreja é certamente mais primitiva do que nos dias de Inácio e não deixa transparecer qualquer anacronismo com o período do apóstolo.

(c) O Problema Doutrinário

A ausência das grandes discussões doutrinárias paulinas, que são encontradas nas suas primeiras Epístolas, e a presença de expressões estereotipadas como a “fé” e a “sã doutrina”, que sugere um estágio de desenvolvimento quando a doutrina cristã havia atingido a fixidez de tradição, têm dado lugar a outras dúvidas acerca da autoria paulina. Entretanto, o reconhecimento do caráter principalmente pessoal dessas micivas e o reconhecimento que tanto Timóteo como Tito já haviam recebido o ensinamento principal de Paulo, é suficiente para explicar a primeira dessas objeções, enquanto que a segunda pode ser anulada pela suposição válida que Paulo, na qualidade de missionário pioneiro que enxergava longe, por mais criativas e dinâmicas que tenham sido as suas primeiras declarações nas suas primeiras Epístolas eclesiásticas, não poderia ter-se esquecido da necessidade de conservar a doutrina verdadeira. Somos obrigados a admitir que os termos que ele então usou com esse propósito são iminentemente aptos.

(d) O Problema Lingüístico

As Epístolas Pastorais contêm um número extraordinariamente grande de palavras em nenhuma outra parte empregada no Novo Testamento, bem como certo número de termos que Paulo não usou em qualquer de seus outros escritos, e essas indicações, segundo alguns estudiosos, demonstrariam que as Epístolas Pastorais não foram escritas por Paulo, especialmente quando isso é confirmado pela ausência de muitos pronomes, preposições e partículas geralmente usadas pelo Apóstolo. Porém, contagem de palavras dessa espécie só podem ser eficazes se existirem informes suficientes que sirvam de uma base justa de comparação, o que não pode ser dito no caso das Epístolas paulinas, onde o vocabulário total não excede 2.500 palavras diferentes. Não parece haver qualquer razão válida pela qual as diferenças de vocabulário e de estilo não poderiam ter tido lugar nos escritos de um homem. Em conclusão, pode ser afirmado que essas objeções, até mesmo quando cumulativamente consideradas, não provêem uma base adequada para considerarmos a convicção reconhecida e jamais derrubada da Igreja Cristã, até o século XIX, de que essas Epístolas são escritos genuínos do apóstolo Paulo.

IV – Qualificações Morais do Pastor

“Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar.” (I Tm 3.1,2) Se algum homem deseja ser “bispo” (gr. episkopos, isto é, aquele que tem sobre si a responsabilidade pastoral, o pastor), deseja um encargo nobre e importante (3.1). É necessário, porém, que essa aspiração seja confirmada pela palavra de Deus (3.1-10 – 3.12) e pela igreja (3.10), porque Deus estabeleceu para a Igreja certos requisitos específicos. Quem se disser chamado por Deus para o trabalho pastoral deve ser aprovado pela Igreja segundo os padrões bíblicos de 3.1-13 – 4.12 – Tt 1.5-9. Isso significa que a Igreja não deve aceitar pessoa alguma para a obra ministerial tendo por base apenas seu desejo, sua escolaridade, sua espiritualidade, ou porque essa pessoa acha que tem visão ou chamada. A Igreja da atualidade não tem o direito de reduzir esses preceitos que Deus estabeleceu mediante o Espírito Santo. Eles estão plenamente em vigor e devem ser observados por amor ao nome de Deus, ao seu reino e da honra e credibilidade da elevada posição de ministro.

(1) Os padrões bíblicos do pastor, como vemos aqui, são principalmente morais e espirituais. O caráter íntegro de quem aspira ser pastor de uma igreja é mais importante do que personalidade influente, dotes de pregação, capacidade administrativa ou graus acadêmicos. O enfoque das qualificações ministeriais concentra-se no comportamento naquele que persevera na sabedoria divina, nas decisões acertadas e na santidade devida. Os que aspiram ao pastorado sejam primeiro provados quanto à sua trajetória espiritual (3.10). Partindo daí, o Espírito Santo estabelece o elevado padrão para o candidato, isto é, que ele precisa ser um crente que se tenha mantido fiel a Jesus Cristo e aos seus princípios de retidão, e que por isso pode servir como exemplo de fidelidade, veracidade, honestidade e pureza. Noutras palavras, seu caráter deve demonstrar o ensino de Cristo em Mateus 25.21 de que ser “fiel sobre o pouco” conduz a posição de governar “sobre o muito”.

(2) O líder cristão deve ser, antes de mais nada, “exemplo dos fiéis” (4.12, compare I Pe 5.3). Isto é, sua vida cristã e sua perseverança na fé podem ser mencionadas diante da congregação como dignas de imitação.

A – Os dirigentes devem manifestar o mais digno exemplo de perseverança na piedade, fidelidade, pureza em face à tentação, lealdade e amor a Cristo e ao evangelho (4.12,15).

B – O povo de Deus deve aprender a ética cristã e a verdadeira piedade, não somente pela palavra de Deus, mas também pelo exemplos dos pastores que vivem conforme os padrões bíblicos (Hb 13.7). O pastor deve ser alguém cuja fidelidade a Cristo pode ser tomada como padrão ou exemplo (I Co 11.1 – Fl 3.17 – I Ts 1.6 – II Ts 3.7,9 – II Tm 1.13).

(3) O Espírito Santo acentua grandemente a liderança do crente no lar, no casamento e na família (Tt 1.6). Ou seja, o obreiro deve ser um exemplo para a família de Deus, especialmente na sua fidelidade à esposa e aos filhos. Se aqui ele falhar, como “terá cuidado da igreja de Deus?” (3.5). Ele deve ser “marido de uma [só] mulher”

Esta expressão denota que o candidato ao ministério pastoral deve ser um crente que sempre foi fiel à sua esposa. A tradução literal do grego em 3.2 (mias gunaihos, um genetivo atributivo) é “homem de uma única mulher”, isto é, um marido sempre fiel à sua esposa.

(4) Consequentemente, quem na igreja comete graves pecados morais, desqualifica-se para o exercício pastoral e para qualquer posição de liderança na igreja local (3.8-12). Tais pessoas podem ser plenamente perdoadas pela graça de Deus, mas perderam a condição de servirem como exemplo de perseverança inabalável na fé, no amor e na pureza (4.11-16 – Tt 1.9). Já no Antigo Testamento, Deus expressamente requereu que os dirigentes do Seu povo fossem homens de elevados padrões morais e espirituais. Se falhassem, seriam substituídos (Gn 49.4 – Lv 10.2 – 21.7,17 – Nm 20.12 – I Sm 2.23 – Jr 23.14 – 29.23).

(5) A Palavra de Deus declara a respeito do crente que venha a adulterar que “o seu opróbrio nunca se apagará” (Pv 6.32,33). Isto é, sua vergonha não desaparecerá. Isso não significa que nem Deus nem a igreja perdoará tal pessoa. Deus realmente perdoa qualquer pecado enumerado em 3.1-13, se houver tristeza segundo Deus e arrependimento por parte da pessoa que cometeu tal pecado. O que o Espírito Santo está declarando, porém, é que há certos pecados que são tão graves que a vergonha e a ignomínia (isto é, o opróbrio) daquele pecado permanecerão com o indivíduo mesmo depois do perdão (II Sm 12.9-14).

(6) Mas o que dizer do rei Davi? Sua continuação como rei de Israel, a despeito de seu pecado de adultério e homicídio (II Sm 11.1-21 – 12.9-15) é vista por alguns como uma justificativa bíblica para a pessoa continuar a frente da igreja de Deus, mesmo tendo violado os padrões já mencionados. Essa comparação, no entanto, é falha por vários motivos:

A – O cargo de rei de Israel no AT, e o cargo de ministro espiritual da igreja de Jesus Cristo, segundo o NT, são duas coisas inteiramente diferentes. Deus não somente permitiu a Davi, mas, também a muitos outro reis que foram extremamente ímpios e perversos, permanecerem como reis da nação de Israel. A liderança espiritual da igreja do NT, sendo esta comprada com o sangue de Jesus Cristo, requer padrões espirituais muito mais altos.

B – Segundo a revelação divina do NT e os padrões do ministério ali exigidos, Davi não teria as qualificações para o cargo de um pastor de uma igreja do NT. Ele teve diversas esposas, praticou infidelidade conjugal, falhou grandemente no governo de seu próprio lar, tornou-se homicida e derramou muito sangue (I Cr 22.8-14). Observe-se também que por ter Davi, devido ao seu pecado, dado lugar a que os inimigos de Deus blasfemassem, ele sofreu castigo divino pelo resto de sua vida (II Sm 12.9-14).

(7) As igrejas atuais não devem, pois são as qualificações justas exigidas por Deus para seus pastores e demais obreiros, conforme está escrito na revelação divina. É dever de toda igreja orar por seus pastores, assisti-los e sustentá-los na sua missão de servirem como “exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (4.12).

V– Valor

Durante toda a história da Igreja essas Epístolas Pastorais têm sido usadas para instruir os ministros de Cristo quanto aos seus deveres e seu comportamento, e têm sido valiosas para provocarem um padrão de comportamento prático. Contudo, sua utilidade e apelo não se têm limitado a isso, pois contêm muitas gemas de encorajamento espiritual e de discernimento teológico que têm enriquecido grandemente a vida devocional da Igreja. Passagens tais como I Timóteo 3.16 e Tito 2.12 - 3.4, entre muitas outras, chamam a atenção do leitor para algumas das grandes verdades do Evangelho, enquanto que o último capítulo da Segunda Epístola a Timóteo preserva o comumente canto de cisne do grande apóstolo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário